7 de mai. de 2011

NO LIMIAR DO TERCEIRO MILENIO


NO LIMIAR DO
 TERCEIRO MILÊNIO

INTRODUÇÃO

       Caro Leitor:

       As páginas deste pequeno manual são destiladas da experiência vivida quotidia-namente no trato com as outras dimensões, com os chamados mundos dos espíritos.
       São, também, o resultado de quinze anos de convivência com a angústia humana, em todas as suas manifestações, do plano físico da moléstia ao plano escorregadio da mente abstrata.
       Destinam-se, portanto, àqueles que continuam na luta de trazer um pouco de luz à escuridão dominante deste triste fim de era cósmica, àqueles que abraçaram o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
       Todo supérfluo foi eliminado, toda a análise deixada para os que se interessam em aprender os fenômenos da vida. Destina-se o livro, portanto, a todas as mentes abertas a realidades sem nome, sem rótulo e sem preconceito. Se há nomes e conceitos, são apenas marcos didáticos para referência no relativo.
       Este livro emergiu de uma comunidade mediúnica sui generis, uma organização dos gurus, dos mestres tibetanos e indus, plantada num vaso Kardecista. Mas, seu principal intento é trazer o Espiritismo para fora do Espiritismo. Espiritismo, como todas as doutrinas e religiões, é apenas um meio de se chegar a um fim, e esse fim, leitor, é Você.
       Pouco importa quem seja Você. Importa desperta-lhe a consciência de si mesmo, para que Você possa prosseguir na sua trajetória milenar. Prosseguir, porém mais consciente, mais equilibrado, mais senhor de suas próprias forças, mais feliz.
       Essa obra não tem um autor, no sentido comum da palavra. Apenas um médium Doutrinador-Receptivo captou as instruções dos Mentores, trazidas pela Clarividente Neiva, e sintetizou-as em palavras. Traz, porém, a chancela da Corrente Indiana do Espaço, cuja organização, na Terra, é a “Ordem Espiritualista Cristã”, no Vale do Amanhecer.
       É, também, incompleto. Um momentum didático num trecho do caminho iniciático. Quando necessário, novos ensinamentos virão, outras formas gráficas, novas sínteses e, talvez, algumas análises.
       As possíveis irreverências à Ciência existem, apenas, porque a obra se destina a todos e, além da Ciência, existe um conceito de Ciência dos que não são cientistas. Que os cientistas nos relevem a ousadia.
       A forma direta e a linguagem íntima se devem ao fato de que esse trabalho se destinava apenas à distribuição interna, entre nossos médiuns. Foi impresso para distribuição mais ampla porque foi decidido que assim seria mais útil.

Vale do Amanhecer, maio de 1972
MÁRIO SASSI, TRINO TUMUCHY

CAPÍTULO I
FUNDAMENTOS DO MEDIUNISMO

O SER HUMANO E OS SERES DE OUTRA NATUREZA

       O Universo é infinito, fora da nossa capacidade conceptual. Concebemos apenas galáxias e sistemas, mediante alguma verificação e muita imaginação.
       Nossa Terra pertence a uma galáxia e a um sistema. No dimensionamento relativo, ela está para a galáxia como um grão de areia está para uma praia. No sistema, ela é um dos menores planetas.
       Em nosso planeta existe um processo biológico com base em partículas diminutas. Essas partículas se organizam em formas de vida que denominamos minerais, vegetais e animais.
       Dentre as muitas formas, a mais aperfeiçoada é o animal chamado Homem ou ser humano. O Homem se caracteriza pela consciência que tem de si mesmo.
       O ser humano, como espécie, não sabe sua origem e nem qual será o seu fim. Tem, porém, a capacidade de especular sobre ambos. É, portanto, uma reta entre dois pontos desconhecidos, do menos infinito ao mais infinito.
       O sistema de verificação no planeta Terra é feito através dos sentidos. Os fatos são armazenados num processo chamado memória e transmitidos, de geração para geração, por meios variados e variáveis.
       Os sentidos são adequados a uma determinada faixa vivencial e limitados no tempo e no espaço. Para cada forma de vida existem sentidos apropriados. O sistema de memória permite a continuação das espécies. Ela existe na intimidade das partículas e nos arquivos complexos da Humanidade. A escolha de um conjunto de memórias proporciona a existência, por tempo determinado, de um tipo humano ou uma espécie.
       Além dos seres verificáveis pelos sentidos, há outros seres, outras formas de vida, cuja existência é admitida pelos efeitos na vida. Deles, o Homem tem menor consciência, dada sua própria natureza.
       Mas esses seres agem e interagem e seus efeitos só são percebidos quando se fazem sentir no âmbito dos sentidos, nos chamados plano físico e plano psíquico.
       Esses seres fazem parte da Biologia e integram a vida.

ESPÍRITO, ALMA E CORPO

       Os sentidos humanos registram no Homem um aspecto palpável: o corpo; e um aspecto sensível, mas impalpável, a psique ou manifestações psicológicas. O físico e o psíquico conjugados formam a personalidade – o ser humano diferenciado, característico e único.
       O corpo é formado pelo sistema de memória física, ou seja, a herança atávica transmitida pelos genes, partículas submicroscópicas da intimidade celular.
       A psique, ou alma, é gerada pela convergência da memória física e do aprendizado recebido do meio ambiente. Ambos se originam de outros indivíduos, outras personalidades.
       Além das atividades psicofísicas, o indivíduo apresenta  outro tipo de manifestação, cujas origens não são do corpo ou da psique. Essas pertencem a outra ordem de memórias a que chamamos espírito.
       Portanto, o Homem é levado à ação mediante três tipos de estímulos: o físico, o psíquico e o espiritual.
       A memória física, impropriamente chamada instinto, é regida, na sua reação, pelo condicionamento do mundo físico, do meio ambiente. Reage através do sistema nervoso do grande simpático ou neurovegetativo.
       A memória psicológica, ou da psique, interage por processos seletivos, que proporcionam a ação consciente dos sentidos e se faz paralelamente à percepção inconsciente, ou subliminar. O processo seletivo escolhe imagens, formando as idéias e estas associadas formam o pensamento.
       A memória espiritual existe e funciona num plano adimensional, num organismo paralelo ao conjunto psicofísico, que denominamos espírito. A herança do espírito transcende o tempo, pois representa o acervo de muitas vidas.
       Como conseqüência das três faixas vibratórias – a física, a psíquica e a espiritual –, todas agindo no mesmo veículo, o ser humano apresenta variações de comportamento a cada momento. A hegemonia de uma ou outra faixa determina a tônica que caracteriza uma pessoa. Ela é predominantemente animalizada, psíquica ou espiritualizada. Essa tônica varia conforme as circunstâncias, principalmente em função da idade.

O MUNDO E AS DIMENSÕES

       O Universo é um todo contínuo e em perpétuo movimento. Ele é concebido pelo Homem conforme o conjunto instrumental aplicado na observação: sentidos físicos, psicológicos ou espirituais. A imagem resultante varia conforme o indivíduo e seu dimensionamento. Existe, pois, um Universo físico, um psicológico e outro espiritual. Visto pelos sentidos, ainda que ampliado pelos instrumentos, ele se apresenta composto de corpos celestes e fenômenos conhecidos, relativamente, até onde alcança esse tipo de verificação. Visto pela psique, em termos interpretativos e de abstração, é intuído, deduzido ou induzido. Forma-se, assim, um pensamento, ou interpretação, que varia com o tempo e as circunstâncias.
       Já a interpretação espiritual do Universo é feita pelo sentido religioso, uma percepção indefinida de fatos que escapam à racionalização, tanto física como psicológica. Classifica-se, pois, de mundo espiritual tudo o que escapa ao sistema indutivo ou dedutivo.
       Cada um dos planos ou universos se caracteriza por faixas vibratórias, movimentos, cujos limites são perceptíveis. Isso pode ser verificado na experiência quotidiana de qualquer ser humano. O Homem pode saber qual o estímulo que ocupa seu campo consciencional, a cada momento, bastando para isso o senso comum de observação.
       Existem uma dimensão física, uma psicológica e outra espiritual. As três coexistem simultâneas e ocupam espaços de acordo com o seu grau de vibratilidade. A vibração de cada um determina a organização das partículas componentes.
       Assim, o mundo físico tem uma organização molecular de densidade variável, mas de limites definidos, caracterizados na estequiometria dos corpos simples. O mundo psicológico movimenta corpúsculos que se caracterizam na sua organização pela extremada velocidade. A percepção desses movimentos exige receptores de alta gama vibratória. Sua ação se traduz pelo som, pelo calor e pela luz em suas múltiplas manifestações, que escapam aos sentidos comuns, mas cuja existência é incontestável.
       A organização do mundo espiritual, embora situada em termos corpusculares, é de difícil conceituação, pois sua movimentação escapa completamente à sensibilidade sensorial. Sua percepção é feita por processos que, embora verificáveis nos efeitos, são imponderáveis na estrutura e na mecânica.
       O campo consciencional – a sede dessas percepções, é chamado o eu, uma abstração definida, uma quarta dimensão nitidamente separada das outras três.
       Eu sinto o meu corpo, percebo a minha psique e sou obrigado a admitir a presença do meu espírito – simultaneamente. Mas, sou sempre o eu, algo separado do meu corpo, da minha alma e do meu espírito, pois registro todos eles.

A RELAÇÃO INTERDIMENSIONAL

       Na continuidade universal, o mais vibrátil de um plano se liga ao menos vibrátil de outro plano. Forma-se, assim, um campo neutro, uma zona intermediária que possibilita a homogeneização, a comunicação de um plano para outro. Podemos fazer uma analogia: uma pedra jogada para o alto ao perder o impulso, começa a cair. No momento intermediário, quando pára de subir e começa a cair, ela é regida por força diferente das duas outras: a que a fez subir e a que faz cair.
       Existe, pois, uma lei, um regime que governa as relações entre as diferentes dimensões, algo entre dois planos. Esse algo é um “meio”, ou usando a expressão latina, um medium. Essa a origem do neologismo brasileiro médium.
       Toda ação no Universo é feita por algo intermediário e isso pode ser facilmente observado pelo senso comum. Quanto mais complexo é o organismo, maior é sua ação intermediária. O Homem, o ser humano, é um médium por excelência. Ele recebe energias e as transforma, adequando-as a cada setor do universo que o cerca. Ele é mais importante por ser portador de um espírito, um espírito para cada conjunto psicofísico. Por isso, ele é diferenciado dos outros seres. Os outros, qualquer que seja sua natureza, são portadores apenas de corpos e psiques ou almas, o princípio organizador e mantenedor da vida. A alma é maior ou menor, segundo a complexidade do organismo que anima. Ela mantém vivo, dá a vida, dirige o organismo em suas relações com o meio. Esse meio é limitado – tem um sentido horizontal; não cria, apenas transforma. Só o espírito traz uma finalidade, um rumo, um objetivo. Só ele tem um sentido vertical, mais amplo, ilimitado em relação à natureza.
       O momento, isto é, o ato de fazer um contato entre dois campos vibracionais, dois planos, é que estabelece a individualidade. Ele diferencia o estado intermediário, o campo de encontro, porque esse momento não pertence nem a um nem a outro dos planos que se encontram.
       Esse ponto morto de dois campos gravitacionais é semelhante ao conceito de morte – a passagem de um plano para outro. Talvez, seja a isso que Jesus se referia, quando disse que “é preciso morrer para ter a vida”, isto é, nascer de novo. Sem a exaustão do percurso de um campo vibratório não se pode penetrar em outro campo, noutra dimensão.
       Esse é o sentido profundo, mas exato, verificável, de fácil percepção das relações interplanos.

DEFINIÇÃO DE MÉDIUM

       Abordamos o sentido generalizado de médium: o ser humano como intermediário – recepção e emissão – de muitas forças.
       O espiritismo tradicional, ou mais precisamente, o Kardecismo, conceituou o médium como o ser humano excepcional, portador de poderes psíquicos que possibilitam o contato com os chamados espíritos. A conceituação kardecista de espírito é ampla e abrange muitas categorias. Mas, o sentido desenvolvido na prática foi o do contato com espíritos que já tenham tido corpos, isto é, já tenham sido seres humanos. Essa preocupação reduziu a grandiosidade do Kardecismo e o espiritismo arcou com o ônus de ser a doutrina dos mortos – o que o Kardecismo não é realmente.
       Mais de cem anos depois, talvez sob a inspiração do próprio Kardec, verifica-se que não existem poderes psíquicos especiais, mas apenas emissão de forças, energias naturais comuns a todos os seres humanos. Vê-se também que todos os seres humanos usam essas energias, pois, sendo elas naturais e integrantes do processo biológico normal, ser-lhes-ia impossível deixar de usá-las.
       Outro fato tranqüilo é o relacionamento interplanos, o contato entre as dimensões, a osmose universal. Esse fato só permanece obscuro porque se convencionou que contato é o que se faz pelos sentidos, convenção essa fácil de ser derrubada no moderno pensamento científico.
       Se admitirmos, pois, a existência de espíritos, seres atômicos, moleculares, cujo habitat é outra dimensão vibracional, somos obrigados, por definição, a admitir a relação desses espíritos com os seres físicos – naturalmente.
       O contato se faz com mais precisão pelo ser humano, por ser este portador de um ou mais espíritos. Um ou mais, porque, no caso das obsessões, mais de um espírito habita o mesmo corpo, formando a base das esquizofrenias.
       A conscientização do mecanismo desse contato, que é feito à nossa revelia, é que diferencia o médium natural do médium no sentido espírita da palavra.
       O desenvolvimento da técnica de contato conscientemente, permite ao médium ir além do relacionamento com seu próprio espírito e controlar o fenômeno, também natural, de relações com outros espíritos.
       Médium é, pois, um ser humano normal que utiliza conscientemente suas faculdades mediúnicas. Mediunismo é o conceito organizado desse processo.

MEDIUNIDADE E MEDIUNISMO

       Mediunidade é a faculdade, a maneira como essa energia se manifesta no ser, seja ele humano ou não. É uma energia que emana do corpo físico e se conjuga, na sua manifestação, com o mecanismo psicofísico. Basicamente, ela é igual em todos os seres, porém, varia em teor, quantidade e forma, de um para outro. Não existem dois médiuns iguais, como não existem dois seres humanos iguais. Mas todos são médiuns na sua condição de seres humanos.
       Mediunismo é o conjunto técnico-doutrinário que estabelece as maneiras de manipulação da mediunidade. Suas bases repousam nas mais profundas raízes da Humanidade, uma vez que sempre existiu como parte integrante dela. É um pouco ciência, arte, religião e bom senso.

MEDIUNISMO E PARAPSICOLOGIA

       Charles Richet analisou os fenômenos, considerados paranormais, pelo método da observação científica, e é considerado o “pai da Parapsicologia”.
       Allan Kardec, observando os mesmos fenômenos, classificou-os por métodos diferentes, e é considerado o “pai do Espiritismo”.
       O primeiro reduziu o fenômeno ao âmbito do conjunto psicofísico e ignorou a presença do fator espírito. O segundo considerou o fator espírito e dimensionou o fenômeno em termos religiosos.
       Se os dois métodos de observação, ambos válidos e perfeitamente aceitáveis, continuassem em paralelo, a Parapsicologia se tornaria Espiritismo e este se tornaria Parapsicologia. Se ambos caminhassem para um denominador comum, ambos se tornariam Mediunismo.
       Assim se apresenta o fenômeno nos dias atuais. A Ciência procura determinar a existência do espírito no laboratório, e o Espiritismo procura uma ciência do espírito. Ambos permanecem ainda inconclusos.
       O fenômeno, porém, sempre existiu e não depende de métodos ou de conceituações para existir. É, pois, um contra-senso querer eliminar um em benefício do outro. A Parapsicologia é tão válida quanto o Espiritismo, e vice-versa. Se o fenômeno que ambos observam é o mesmo, ele acabará por se evidenciar, graças exatamente às experiências cada vez mais intensas em torno dele.
       Sempre que um parapsicólogo provoca um fenômeno dessa natureza, ele põe em funcionamento os mesmos mecanismos que um espírita poria. O primeiro atribuirá os resultados aos poderes ocultos do ser humano; o segundo os considerará como poder dos espíritos.
       Conclui-se daí que as posições assumidas são apenas de conceituação filosófica, o que absolutamente não afeta o fenômeno. O Mediunismo, como perspectiva ampla, irá atenuar essa luta inócua.

A ORGANIZAÇÃO CRÍSTICA

       No seio das inúmeras civilizações que já existiram neste planeta, sempre houve sistemas de relacionamento interplanos. Se observarmos, para a medição do tempo, não importa qual seja o calendário, verificaremos o registro de ciclos relativamente iguais em períodos diversos. Dentre eles, o mais simples para nossa observação, é o de dois mil anos. Nesses ciclos observa-se certa regularidade nos acontecimentos que os caracterizam. Talvez, quando a História for mais científica, isso possa ser verificado com maior acuidade.
       Assim é que vemos o Cristianismo. A vinda de Jesus ao planeta não só foi precedida por uma série de fatos inusitados, mas também seguida por eventos cuja trajetória pode ser traçada com nitidez.
       Tais fatos, observados em conjunto, nos dão a idéia clara de organicidade e dinâmica, apesar do seu registro se fazer sempre em relação a outros movimentos da História.
       Se olharmos com isenção podemos detectar claramente a Organização Crística.
       A resistência do Evangelho a todas deformações e as muitas práticas em nome de Jesus demonstram, claramente, a existência de um sistema, uma organização fundamental que resiste a todas as interpretações.
       Dentre as muitas coisas sugeridas no Evangelho, emerge com clareza a organização mediúnica. O apostolado e toda a gama de missionarismo nos dão idéia clara do sistema intermediário entre o Céu e a Terra. Assim nasceram as religiões e as idéias do ser neutro – em da Terra nem do Céu, os pontos mortos do alto da lei física.
       Hoje, pode-se falar claramente em termos de plataformas espaciais, que são as casas transitórias do Espiritismo, mundos organizados como pontos intermediários entre duas dimensões vibracionais. Se observarmos o Evangelho sem preconceitos, encontraremos um tratado técnico de Mediunismo.
       Entretanto, é preciso lembrar que o Mediunismo é uma das facetas do Evangelho e do ser humano. A mediunidade é, apenas, o elemento de ligação entre as atividades sutis do espírito e a trajetória do Homem na Terra.

MEDIUNISMO E RELIGIÃO

       Religião é um conjunto de conceitos que procura estabelecer uma ligação entre dois pontos desconhecidos – o princípio e o fim das coisas.
       Por ultrapassar os limites do verificável pelos sentidos, ela estabelece a fé, a crença, como norma de aceitação. Como esses conceitos variam no tempo e no espaço, formam-se religiões características em determinados momentos sociais.
       Basicamente, consiste numa forma padrão de comportamento que estimula, além do conjunto psicofísico, o mecanismo espiritual. A prática religiosa procura despertar as forças latentes dos seres humanos no sentido de servir a Deus, em detrimento da tendência natural de servir ao Diabo, Deus e Diabo representando forças opostas e extremadas. Em todas as religiões, as duas figuras emergem com nomes e representações as mais variadas.
       Como a religião considera o espírito fator fundamental, ela manipula, com toda naturalidade, as forças naturais de ligação, os pontos intermediários – o Mediunismo.
       Concluímos, pois, que a mediunidade é a força básica e instrumental de todas as religiões e o principal fator da atitude religiosa. O estudo do mecanismo das religiões leva-nos a distinguir facilmente as práticas mediúnicas.
       A não aceitação desse fator torna a religião motivo de angústia e sofrimento, quando deveria ser exatamente o contrário. Cada ser humano traz consigo sua programação própria, sua maneira de servir o destino. Traz, também, as forças necessárias, as armas próprias para a ação.
       A tentativa de padronização do comportamento produz a angústia. É desumano viver-se sob o peso do medo, pecando não contra a consciência, mas contra um conjunto de textos.

MEDIUNISMO E CIÊNCIA

       A Ciência é uma religião às avessas.
       No tempo de Pasteur chegava-se a ridicularizar a idéia da existência dos micróbios. Como conseqüência, matava-se cientificamente por falta de assepsia. O mesmo aconteceu aqui no Brasil com relação à febre amarela. Os jornais da época estão cheios de charges que ridicularizavam Oswaldo Cruz e a vacina.
       Allan Kardec foi o Pasteur do mundo invisível do espírito. Só que o tempo ainda não foi suficiente para sua valorização universal.
       Entretanto, a fenomenologia deste fim de ciclo irá trazer à luz os fenômenos espirituais com tal evidência, que a Ciência terá que se voltar para eles e colocá-los no lugar devido.
       Além do processo reencarnatório, o Mediunismo evidencia a existência do ectoplasma e, com base nesses dois fatores, a Ciência irá encontrar elementos que se coadunem com a atitude científica.
       Segundo literatura recente, dão-nos conta de que na Inglaterra, os cientistas conseguiram registrar um tipo de energia, batizado de Fator L. Em São Paulo, o cientista Hernani de Guimarães Andrade escreveu um ensaio denominado “Teoria Corpuscular do Espírito”. Em todo o mundo se estuda o sistema de fotografia chamado Efeito Kirlian. Poderíamos citar ainda inúmeros exemplos do interesse da Ciência pelo mundo invisível do espírito. Mas nos preocupa o fato de tais estudos estarem ainda no nascedouro e, enquanto isso, milhares de seres humanos estão perdendo  sua oportunidade neste planeta.
       O Mediunismo, com toda sua simplicidade, poderá apressar o processo científico e oficializar os meios de reequilíbrio humano, tanto no campo físico como no psicológico.
       Não existe conflito entre a atitude científica e a manipulação mediúnica. Ao contrário, ambos podem se beneficiar se tomarem caminhos convergentes.



CAPÍTULO II
A VIDA FORA DO MUNDO FÍSICO

A ENCARNAÇÃO

       “Na casa de meu Pai existem muitas moradas” – a expressão evangélica é o paradigma de referência para a crença na habitabilidade de outros mundos. Mas, pouco ou nada sabemos como os espíritos moram nessas paragens, como são seus corpos ou sua vida social. Admitindo a reencarnação, teremos que acreditar que o espírito vem de algum lugar organizado e no âmbito de um planejamento reencarnatório. A literatura espírita nos traz algumas revelações, as quais, devidamente escoimadas do formalismo humano, se coadunam perfeitamente aos objetivos desta doutrina.
       Assim, podemos aceitar que o espírito vem de um sono hibernal e que traz, no âmago do seu ser, a memória sintética das experiências anteriores. Ele vem para a Terra a fim de completar o ciclo dessas experiências, retificar os erros de sua trajetória ou retomar alguma tarefa interrompida em encarnação anterior.
       Além da razão do espírito vir para a Terra, existem muitas perguntas em torno das finalidades da existência humana. Cremos, porém, que as respostas serão sempre aleatórias, pois se trata de especulação da mente divina, fora da nossa capacidade psicológica.
       Mas, se o espírito traz consigo sua memória de atividades anteriores, temos que aceitar ser a atual a resultante dessas experiências, desse condicionamento. O equilíbrio do Homem consiste, justamente, em harmonizar suas três faixas vibratórias com o mapa desse roteiro. O ser humano só é equilibrado quando vive em paz consigo mesmo, com os caminhos que escolheu anteriormente, com a trajetória de seu próprio espírito.
       O processo reencarnatório é a morte às avessas, a exaustão da vivência em determinada faixa e o início em outra faixa – o espírito deixa um mundo e penetra em outro. O sistema gestatório é a forma mais perfeita para essa transferência. As vibrações sutis que presidem a fecundação e a formação do ser têm justamente as condições estáticas  do ponto morto da Física.
       O anseio que preside a alma de retorno às origens, a imensa saudade das condições pré-natais, tem sua origem nesses momentos de não ser, que vão desde o ato do amor até o nascimento, quando cessa o não ser, não existir, e se chora por se tornar um ser que passa a existir. É o mistério do amor, da criação.

GUIAS E MENTORES

       No vasto planejamento sideral, o ser tem sua reentrada no planeta bem delineada.
       Como acervo, ele traz consigo as conquistas de sua trajetória anterior, de todos os recantos do Universo onde haja passado.
       Embora seja único, na complexidade do seu vir a ser constante, sua existência é sempre relacionada com outros seres que também fazem suas trajetórias.
       O ser percorre trechos diversos, com seres variados, porém sempre ligados entre si no caminho maior. Assim, núcleos, átomos, moléculas, células, falanges de espíritos afins, em gigantesco concerto, percorrem universos, formando hierarquias infinitas.
       Uns são instrutores de outros, alguns num plano, outros noutro, alguns descendo para o vértice involutivo, outros subindo para a meta evolutiva.
       Guias e Mentores são os espíritos responsáveis pela etapa terrena de outros espíritos.
       O Mentor é o espírito zelador do programa que o espírito delineou para si na presente encarnação.
       Como o engenheiro que acompanha a obra em andamento, ele assiste o espírito na sua personalidade transitória. Obrigado a respeitar o livre arbítrio do seu tutelado, ele usa de todos os meios possíveis para que ele obedeça à planta da obra, sem arranhar a sua liberdade.
       Um espírito pode ser o Mentor de vários espíritos, embora se apresente a cada um deles com uma roupagem diferente.
       Guias são espíritos amigos do encarnado que o ajudam na realização de sua missão. O Mentor é o responsável pelo destino cármico e pelo êxito de uma existência.
       A vida na Terra é como um curso universitário. O aluno escolhe as matérias, faz o vestibular, as provas, e sai diplomado ou não, conforme tenha sido bom ou mau aluno. O Mentor eqüivale ao reitor e os Guias são como os professores.
       Como na escola, a vida terrena é livre e depende do livre arbítrio do Homem.
       No Mediunismo, o Mentor é o espírito que assiste o médium na sua vida e com ele trabalha em suas linhas mestras. Os Guias são os espíritos que trabalham com os médiuns na execução de suas mediunidades.
       Assim como os professores na Terra têm muitos alunos, os Mentores celestiais também têm muitos tutelados, e os Guias muitos alunos.

A RECEPTIVIDADE DOS SERES HUMANOS

       O aparelho humano é o mais complexo e sensível receptor e transmissor da Natureza. Os outros animais têm alguns sentidos mais apurados, como o cão ou a borboleta, porém sempre no rumo de especialização ou finalidade restrita, afeitos ao plano denso da organização física. Há muitos mistérios nos mundos animal, vegetal e mineral  que ainda não foram decifrados pelo Homem. Mas, verifica-se  que as ações são sempre relacionadas com a sobrevivência física do indivíduo e da espécie. A Ciência nos mostra isso cada vez com maior acuidade e clareza.
       As deficiências do Homem são apenas aparentes. Ele não consegue perceber o som tão bem como o cão, mas sua capacidade seletiva lhe permite registrar mais que o cão. Verifica-se, então, que a Natureza tomou cuidados especiais em preservar a tônica humana, para a gama sensorial estritamente indispensável para a vivência física. Aldous Huxley, na sua obra “Às Portas da Percepção”, nos mostra como a função enzimática é redutora dos sentidos.
       O hábito de se fechar os olhos para se concentrar em algo especial evidencia isso com muita propriedade. Procedemos assim para eliminar os estímulos visuais do exterior e, com isso, nos tornarmos mais sensíveis aos estímulos da memória. Para sermos mais receptivos ao nosso mundo psicológico, diminuímos o máximo a recepção aos processos físicos.
       Somos senhores da técnica seletiva e atendemos ao mundo físico ou ao mundo psicológico, conforme nossos interesses. Este trabalho pretende mostrar o que fazemos para a recepção às emissões de nosso mundo espiritual e como melhorar essa técnica seletiva.

A RECEPTIVIDADE MEDIÚNICA

       Mediunidade é uma forma de energia, partículas em movimento e, portanto, condutora. Sua vibração supera as dos mundos físico e psicológico. As coisas que acontecem pelo processo mediúnico são muito mais rápidas que as que acontecem no físico ou no psíquico. Um Homem está vivendo, isto é, digerindo, movimentando etc., seu cérebro está pensando e os processos são interdependentes com certa sintonia. Mas o campo vibratório do seu pensamento é sempre mais rápido que o da sua vivência física. Ele pensa ou faz de acordo com seu interesse no momento. Seu campo consciencional está focalizando numa ou noutra forma de ação (pensar ou fazer são apenas formas de ação).
       Enquanto pensamos ou agimos, nosso espírito também age, através do processo mediúnico. Sua ação é semelhante à do mágico, que tira a toalha da mesa sem entornar os copos e as garrafas.
       Decidimos, com base nos processos lógicos, porém, por trás de todas as decisões, está o substrato de nosso espírito que, às vezes, nos leva a caminhos inesperados.
       Cada campo vibratório é pleno de agentes relacionados entre si. Assim é que fazemos nossos contatos particulares, nosso ambiente. Existe, pois, com toda naturalidade, um ambiente físico, um psicológico e um espiritual.
       Com isso, pode-se colocar tranqüilamente o Mediunismo junto à Fisiologia e à Psicologia.
       Para a Ciência do Homem se tornar mais completa falta apenas admitir o fator espírito/mediunidade e a psicossomática se tornar espírito/psicossomática ou, simplificando, Somática.
       Há, pois, muita objetividade, muita clareza no relacionamento do Homem com seu espírito, desde que admitamos como natural a existência autônoma do espírito. Como conseqüência lógica, teremos que admitir o relacionamento do Homem com outros espíritos sem alma e sem corpo.
       Embora devamos ter certa cautela na classificação, poderemos dizer que uma pedra, um pedaço de madeira, uma célula ou um cadáver seriam simples corpos. Um ser humano possui um corpo, uma alma e um espírito. Um espírito desencarnado é um ser humano que tem uma alma e um espírito, mas não tem corpo físico. Um espírito puro não tem alma nem corpo.

O DESENCARNE

       Terminado o curso na escola da Terra, o espírito deixa o corpo e penetra em outras dimensões. Como bagagem, ele leva consigo alma, e a conserva enquanto está a caminho. Para que a alma subsista ao desencarne ela separa do corpo físico parte do sistema nervoso, a estação central, onde todo o sistema da personalidade está concentrado.
       Enquanto o espírito está ligado à alma, ele é obrigado a permanecer no campo vibratório dela e fica sujeito às leis que regem esse plano.
       Da mesma forma que a alma se alimenta, no ser vivo, das energias sutis produzidas pelo corpo, ela continua se alimentando depois do desencarne. Como não tem corpo para seu sustento, ela passa a se alimentar de outros corpos e isso estabelece o relacionamento inevitável entre vivos e mortos.
       Isso explica toda uma série de fatos estranhos que acontecem na Terra e que devem ser examinados com simplicidade, se quisermos nos equilibrar em relação ao todo.
       O desencarne é simples e difícil ao mesmo tempo, e exige assistência, tanto no plano espiritual como em nosso plano. Se o paciente é bem ou mal assistido, isso depende da maneira como viveu.
       O processo dura cerca de vinte e quatro horas, no desencarne considerado normal, isto é, o que se dá por moléstia. Depois do último suspiro, ou seja, a cessação do processo metabólico, o espírito deixa o corpo e se coloca pouco acima dele, em posição inversa relação à cabeça, se o paciente estiver deitado em decúbito dorsal.
       A partir desse momento, começa a absorção do acervo da personalidade que acaba de morrer. Na medida em que o espírito vai recebendo os fluídos e emanações, ele vai formando um novo corpo, e este vai se distanciando do cadáver. Terminado o processo, o novo habitante do mundo invisível se afasta e o corpo inanimado entra em decomposição.
       Nesse mundo, o espírito, com toda a bagagem, entra no estado semelhante ao do indivíduo que acabou de falecer. Ele ainda é considerado um cadáver, até que o destino tomado lhe dê condição de vivente do plano em que se encontra.
       Essa é uma idéia generalizada sobre o desencarne. É preciso, porém, não esquecer que cada ser humano tem sua própria maneira de morrer, assim como teve a de viver.
       Nesse processo, o sistema nervoso desempenha um papel importante. Como um esquema de memória, ele representa a base material onde se agrega o acervo recebido. Isso explica certas moléstias cármicas, que têm origem na existência anterior.
       Se o desencarne se deu por outros meios que não a moléstia, digamos num desastre, o mecanismo é mais ou menos o mesmo. A diferença é que o desencarne se processa antes do ato traumático. A pessoa que dirige um carro que irá chocar-se dali a alguns instantes (ou mesmo horas), já tem  o seu desencarne feito.
       Livre do envoltório físico, o espírito é encaminhado a um lugar no espaço que, em nossa corrente, é chamado  de Pedra Branca. Nesse lugar dimensional ele fica entregue a si mesmo, durante um tempo equivalente a sete dias da Terra. Ali ele chora, maldiz, rejubila-se, alegra-se ou se entristece, na medida em que vai tomando conhecimento do que lhe aconteceu. Seu despertar é o momento solene do exame de consciência sem as distorções do mundo sensorial e dinâmico.
       Após esse período, em se tratando de uma criatura comum, o Mentor o apanha na saída e o traz para a superfície, em busca do fluído necessário para a viagem ao destino merecido.
       Esse é o momento crítico do recém-desencarnado.
       Se cumpriu seu destino e exauriu seu carma, ele abandona o plano físico e é levado para uma estação intermediária do etéreo, conforme a falange ou família espiritual a que pertence. Nessas  casas transitórias ele se prepara para voltar ao planeta de origem, onde estava antes de vir à Terra.
       Devido às condições difíceis desse período, o espírito é chamado de sofredor. Esse estado pode durar apenas alguns dias ou séculos. Isso depende somente dele. Se o Mentor não consegue encaminhá-lo logo após a volta de Pedra Branca, ele o deixa entregue ao próprio destino, pois terminou sua missão junto àquele espírito. Esse se torna, assim, um espírito errante, que vai, aos poucos, perdendo a identidade, atraído por outros espíritos nas mesmas condições, para as macumbas e ambientes semelhantes.
       Há, pois, duas maneiras básicas de um espírito cumprir seu destino na Terra. A normal é a luta como ser vivo, com suas tramas, conflitos, reajustes, vitórias e derrotas, até a exaustão de todos os compromissos. A outra é a da fuga, do suicídio lento e ausência do aproveitamento das oportunidades evolutivas. Isso leva ao parasitismo e à dependência do meio ambiente, que resulta no desencarne com dívidas ainda por saldar.
       Nessa condições, o desencarnado é obrigado a permanecer na Terra, e se torna um sofredor. Mas a misericórdia divina, ainda assim, lhe dá novas oportunidades, pois  ninguém é abandonado nesse mundo de Deus.
       Com os fluídos emanados do plexo solar dos médiuns de incorporação e com a doutrina fluídica dos médiuns Doutrinadores, ele consegue sua redenção, completa sua trajetória e vai se preparar para novas encarnações.

ESPÍRITOS SOFREDORES

       Sofredor e, portanto, o espírito desencarnado que permanece no plano da Terra, nos submundos que circundam a superfície. Chama-se, também, espírito errante, alma do outro mundo e outros nome que as superstições e as crendices os denominam. Sua situação é análoga à de uma pessoa marginalizada, sem endereço ou emprego fixo.
       No plano em que vive, não existe a luz solar, o som e outras formas energéticas do plano físico. Aí ele se liga a outros espíritos nas mesmas condições, e forma com eles falanges e até legiões.
       O tempo de permanência nessa situação varia conforme o destino de cada um, até a exaustão de seus compromissos ou resgate no Sistema Crístico, nas suas múltiplas manifestações mediúnicas.
       Ele se alimenta das energias sutis e fluídicas dos seres humanos, do ectoplasma colhido de plantas, animais, trabalhos de macumbas e outras fontes desconhecidas dos humanos.
       Possui um peso molecular variável com sua densidade. Quando doutrinado e fluidificado a um ponto ideal, adquire leveza suficiente para ser magneticamente levado para os postos de socorro espiritual.
       Ele se liga ao ser humano pela gradação vibracional e só encontra acesso quando a vibração do encarnado desce até à sua. Normalmente, sua influência é neutralizada pelo mecanismo biológico em seu contexto psicofísico. Essa relação é análoga aos fatores simbióticos do ser físico: respiramos micróbios e impurezas e os neutralizamos com nosso mecanismo de defesa. Se esse mecanismo enfraquece, ficamos doentes.
       Da mesma forma, se nosso padrão vibratório é baixo, nós somos tomados, carregados, espiritados, etc. Esse mecanismo determina a posição voluntária de cada ser humano. Ele é responsável pelo seu padrão e, por conseqüência, pela companhia em que vive a cada momento de sua vida.
       O Evangelho é um manancial de lições a esse respeito, pois nele encontramos inúmeras citações de problemas de passagem e redenção de sofredores. A mais notável é aquela em que Jesus dá passagem a uma legião de espíritos através de uma manada de porcos. Naquele tempo, havia tantos espíritos desencarnados, ainda na Terra, que era comum um Homem ser portador de mais de um espírito, havendo casos em que muitos espíritos habitavam o mesmo corpo, como no caso acima.
       O Sistema Crístico, adequado aos dois mil anos que se sucederiam ao nascimento de Jesus, incluiu a organização das casas transitórias e, já no tempo do Mestre, elas entraram em funcionamento.
       De muita flexibilidade e previsto para as mais variadas situações, o Sistema foi se espalhando pelo planeta, tomando as aparências mais diversas, conforme as épocas e lugares. Assim, nasceram mitos, religiões, doutrinas e práticas esotéricas, em cujas raízes se encontra, sempre, a base do sistema mediúnico.
       No Brasil de hoje, o Sistema se chama sessão espírita, trabalho de sofredores, passagem, sessão de doutrina, etc.
       É preciso que se note, entretanto, que o Mediunismo independe, no seu mecanismo básico, de um trabalho organizado. Os socorristas espirituais se aproveitam de qualquer circunstância humana, principalmente reuniões de pessoas, para fazerem a passagem dos espíritos sob sua responsabilidade. Nesse caso, qualquer ser humano atua como médium, mesmo sem o saber.
       Mas o esquema só funciona em sua plenitude quando sob os auspícios do Evangelho. A técnica da passagem é acessível a qualquer um, porém, a moral e as razões mais profundas somente são do domínio de pessoas evangelizadas. É, também, natural que, em épocas de transição, como é a nossa, a necessidade de trabalho seja maior.
       Cumpre notar que se torna muito difícil, senão impossível, qualquer doutrina religiosa evoluir sem a preocupação com os sofredores. Esses asfixiam os grupos pelo simples fato de seus componentes serem humanos e possuírem, gostem ou não, seus plexos epigástricos – o Sol Interior.

             EXUS E OBSESSORES

       Exu é um nome muito generalizado, que se dá a certos espíritos desencarnados e que atuam como líderes do plano invisível da Terra. Geralmente, são seres humanos,  cultos e inteligentes, que desencarnam sem terem compreendido nem aceito o Cristianismo.
       Eles aceitam Deus à sua maneira e manipulam as energias mediúnicas em consonância com as suas próprias maneiras de ser, isto é, sem submissão aos planos da Lei do Amor e do Perdão. Eles fazem suas próprias leis.
       O Doutrinador deve ter certa cautela na utilização da palavra exu, pois é um pouco vaga e quer dizer muita coisa. Um simples sofredor, incorporado num médium mal desenvolvido, pode parecer um exu.
       Na verdade, eles incorporam, de preferência, nos seus cavalos, médiuns afinados com suas finalidades, que variam conforme o tipo de exu e o meio ambiente onde opera. Seus fins são sempre dirigidos para o enredo normal da vida humana e falta, na sua caridade, a sublimação evangélica.
       Eles se agrupam em falanges, como quaisquer outros espíritos, e formam linhas, conforme suas especialidades. Certos tipos de exu pertencem a escolas e universidades e manipulam tremendas forças invisíveis.
       Dessas bases, eles comandam sua ação junto aos seres humanos, sempre segundo sua maneira de ver e conceituar, como os seres humanos deveriam ser ou fazer. São eles os inspiradores de doutrinas estranhas, de guerras e demandas, sempre, porém, pautadas pela não aceitação da Lei do Perdão.
       Obsessor é um espírito que mantém um relacionamento direto com um ser humano encarnado, por afinidade. Essa afinidade, em geral, decorre de um relacionamento estabelecido quando ambos habitavam o mesmo plano.
       Obsidiar significa perseguir, assediar, manter o cerco. O obsessor é um espírito que persegue, assedia um encarnado, para cobrar uma dívida da qual se acha credor, num sentimento de ódio ou amor mal interpretado.
       A categoria do obsessor varia ao infinito e cada caso de ser examinado à parte. O mecanismo da obsessão é sempre o mesmo: troca de energias entre o obsessor e o obsedado, de forma mais ou menos constante. Um sofredor ou vários podem passar pela nossa vida sem serem obsessores, pelo simples fato de não termos relações pessoais com eles.
       O obsessor é, sempre, um inimigo pessoal. Um sofredor pode ser afastado com um simples trabalho mediúnico e, às vezes, até sem ele. Mas, para que haja o afastamento de um obsessor, é necessário que a razão do assédio seja resolvida, a dívida saldada. Afastamentos feitos sem as devidas cautelas resultam pior do que a própria obsessão.

ESPÍRITOS DE LUZ

       A partir da concentração molecular da matéria densa, podemos conceituar a vida, no âmbito do Mediunismo, em termos de vibração. Nesse sentido, a matéria sólida, os líquidos, os gases, o som, a luz, etc. são estados vibracionais.
       Conforme o tipo do corpo de que o espírito é revestido, ele está sujeito àquela gama vibratória. Um espírito encarnado age através do corpo físico, um desencarnado do etérico, do astral ou do mental, de acordo com as vibrações desses planos. Ao atingir determinado grau evolutivo, sem compromissos nesses planos, o espírito adquire uma vibratilidade, cujo conceito mais apropriado, em termos de sentidos humanos, é a luz. Costumamos dizer, então, que o espírito é pura luz. A partir daí, conceituamos os Mentores e Guias, que assistem os terráqueos, em termos de Espíritos de Luz.
       Espíritos de Luz seriam, então, os que já superaram a faixa reencarnatória em termos pessoais. Quando há reencarnação desses espíritos na Terra é, provavelmente, para o exercício de missões a serviço dos planos divinos e não em funções cármicas.
       Naturalmente, os conceitos desses espíritos estão fora do alcance humano e sua ação, na Terra, deve obedecer a planos incompreensíveis para nós, encarnados.
       Isso é relativamente fácil de verificar, no contato com esses espíritos, qualquer que seja a modalidade de comunicação. Em nenhuma hipótese, eles invadem o campo de nosso livre arbítrio, ou nos levam a alguma decisão que contrarie nosso destino transcendental. Suas ações são inexoravelmente em termos de nossa evolução, da abertura para o espírito. Embora respeitem nossos valores, jamais criticando as coisas de nossas vidas, ou da vida em geral, eles procuram mostrar o caminho da realização através desses mesmos valores. Eles respeitam a nossa condição de espíritos encarnados. Castigos, punições, lições de moral, estão fora, completamente, das atitudes de um Espírito de Luz.
       Ao contrário, um espírito da Terra, ainda que muito evoluído, pauta, sempre, sua ação em termos de aconselhamento, de vida moral, de formas de comportamento. Eles fazem questão de demonstrar seus poderes ou sua eficácia, e acabam, quase sempre, se tornando patronos. Os grupos dirigidos por espíritos da Terra acabam, sempre, por se preocupar com problemas sociais, dão demasiada ênfase à caridade material e à correção das injustiças sociais.
       Com isso, a vida mediúnica se horizontaliza, se impregna do transformismo da personalidade. O grupo assim orientado, se preocupa com as bases materiais da obra, com os resultados palpáveis, com estudos e conceituações doutrinárias. Em resumo, ele se humaniza, em vez de se divinizar.
       Nesse caso, as ações e a orientação refletem o nível social do grupo. A justiça praticada pode chegar, até mesmo, aos termos de punição, vingança e corrigendas de comportamento.
       Nesses grupos, o ectoplasma circulante é impregnado dos fluídos do plano invisível, resultando daí uma divisão de forças, uma homogeneização em termos diluentes. O mundo invisível não produz energias, mas, ao contrário, se abastece de energia do plano físico. É por isso que o médium desses grupos se cansa, desanima e desiste.
       Ao contrário, quando o grupo mediúnico sintoniza com os Espíritos de Luz, ele recebe forças do outro plano e, com isso, não gasta suas energias fluídicas ou nervosas. Um médium, bem sintonizado com seu Mentor, pode operar horas a fio, e voltar a si em melhores condições físicas e psicológicas do que quando começou a trabalhar.
       Para melhor compreensão dessas afirmações é preciso entender a diferença entre plano invisível e plano espiritual, objeto do subtítulo seguinte.

MUNDO INVISÍVEL E MUNDO ESPIRITUAL

       É mais fácil a comprovação da existência de planos vibracionais diferentes, na experiência pessoal e individualizada de um ser humano. Tomando por base a experiência individual, podemos esquematizar esses planos, com auxílio das revelações iniciáticas e um pouco de bom senso.
       Sob esse prisma, temos um plano físico, um psicológico e um espiritual, ou seja, do corpo, da alma e do espírito.
       Os grupos iniciáticos fazem a divisão em sete planos, que seriam: o físico, o etérico, o astral, o mental e os três planos crísticos ou búdicos – Pai, Filho, espírito, ou Deus, Verbo e Universo), variando essas descrições de acordo com cada grupo. Todos, porém, mantêm o número sete como base. Mas, para nossa compreensão do Mediunismo, bastam os três planos.
       O importante é saber que o mundo invisível não é, necessariamente, o mundo espiritual, da mesma forma que o mundo dos micróbios não é o mundo da alma, embora ambos sejam invisíveis aos nossos olhos.
       O mundo invisível que nos cerca faz parte da Terra, é molecular e tem, portanto, uma organização, leis que o regem. Sua forma é tal que ele não ocupa espaços físicos, como um sólido. Uma construção desse mundo pode, tranqüilamente, ser feita no mesmo lugar onde haja uma construção sólida. Ele ocupa os espaços intermoleculares do plano físico e pode coexistir simultaneamente.
       Um corpo físico, sólido, pode ser transformado, na sua organização molecular, num corpo invisível, ser transportado através dos sólidos e reintegrado em seu estado anterior. O mesmo pode acontecer a um corpo do mundo invisível. Esse é o fenômeno básico das materializações espíritas. Esse mundo é intensamente habitado por espíritos que passaram pela Terra e ainda não retornaram aos planos espirituais. Pertencendo à Terra, eles são obrigados a viver das energias produzidas nela. Eles manipulam essas energias, não a produzem. Isso é muito importante, e fundamental de se saber. O espírito encarnado, o ser humano, absorve energias da Terra física pelo alimento, pela respiração, etc. O espírito desencarnado não tem as condições do encarnado, que põe em funcionamento os mecanismos de produção. Não tendo possibilidades de produzir as energias que precisa, ele as absorve do encarnado. Mas, para que isso aconteça, é necessário que essa energia tenha o teor adequado, e isso é feito pela mediunidade. Num certo sentido, é uma vida parasitária, em que nada se cria e nem tudo se transforma.
       Há algumas coisas básicas desse mundo que devem ser tomadas em consideração , se quisermos ter uma posição correta em relação a ele:

1.  Não há possibilidade de um espírito nessas condições encarnar, isto é, nascer na Terra física; a forma que eles encarnam é pela obsessão, ou seja, sintonizam com um encarnado e ocupam, parcialmente, seu corpo.
2.  mundo invisível não reflete a luz, o calor, e nem o som do mundo físico. Como uma das conseqüências, eles não têm noção do tempo, da cronologia da Terra. Os fatos que alimentam suas mentes são em menos quantidade que os percebidos  por um encarnado. Eles não têm a noção espacial que lhes permita concepções superiores às concepções humanas.
3.  Eles precisam de nós, mas nós não precisamos deles, a não ser como instrumentos de nossa evolução, do exercício de nossa mediunidade.
4.  Para nos manter em condições de  bons fornecedores, eles procuram nos induzir a formar correntes mediúnicas, sintonizadas com eles. Com isso, eles são a maior fonte de ilusões da mente dos encarnados, e tudo fazem para nos apresentar o seu mundo como o mundo espiritual. Uma boa parte dos atuais seres e máquinas, pretensamente oriundos de outros planetas, vem desse mundo. A plasticidade molecular do mundo invisível é tal que eles podem fazer aparelhos que tenham todas as aparências de artefatos, imaginados pelos seres humanos como interplanetários.
5.  Conforme o ectoplasma que absorvem, eles são capazes de se materializar no mundo físico, e não o fazem com maior constância em face do enorme dispêndio de ectoplasma que o fenômeno exige.
6.  A principal fonte de enganos dos seres humanos, ao lidar com esses espíritos, é que eles usam a palavra Deus com muita facilidade. Mas, em raras hipóteses, eles mencionam Jesus ou o Cristo, a não ser para combatê-los. Isso é natural, pois, a impossibilidade da concepção de Deus, por quem quer que seja, na Terra, não impede que se fale em Seu nome. O mesmo não pode ser feito com o Cristo Jesus.

O mundo espiritual só pode ser entendido e concebido de acordo com a experiência individual. Mas, dificilmente pode ser descrito ou explicado de maneira a se formar conceitos. As tentativas nesse sentido são inteiramente antropomórficas e, portanto, sem validade. Uma delas estabelece a conceituação de Céu para se referir a esse mundo. Essa premissa nasceu das páginas do Evangelho; porém, é difícil separar-se essa idéia do conceito de um estado íntimo do ser humano, de serenidade, de paz, etc.
Em nosso livro “2000 – Conjunção de Dois Planos” há uma série de revelações, feitas através da Clarividente Neiva, de informações do contato com seres de um planeta matriz da Terra, que nos dão uma idéia aproximada do que seria a vida nos planos espirituais.
Fora das revelações, feitas por espíritos amigos, achamos muito difícil estabelecer hipóteses ou premissas em torno das condições de vida nos mundos extraterrestres.

MISSÃO

Todo espírito que encarna na Terra tem um programa a cumprir, mas nem todos os espíritos têm missão.
Na hierarquia sideral, existem todas as categorias de espíritos e infinitos graus de evolução. A Terra é uma complexa universidade, com toda categoria de alunos. Uns vêm, apenas, completar o curso, outros vêm para um aperfeiçoamento, outros para fazer um curso completo.
A missão se relaciona diretamente com o tipo de programa que o espírito tem de cumprir. Se ele se atém somente ao seu âmbito, seus problemas pessoais, sua faixa é essencialmente cármica. Mas se, além da sua faixa cármica, ele se compromete a evoluir, cuidar de outros espíritos e ajudá-los, nesse caso ele tem missão a cumprir.
Quanto maior é a missão, assim é a faixa cármica do espírito. Esse fato suscita uma questão de magna importância: então, por que os missionários sofrem tanto? Por que Jesus sofreu? E os apóstolos, os seguidores de Jesus, os mártires, por que são sempre ligados a uma idéia de sofrimento?
A resposta a essa questão reside em dois pontos básicos: a diferença entre dor e sofrimento, em primeiro lugar; e as diferenças da tônica magnética dos seres humanos, em termo de corpo, alma e espírito.
A Fisiologia e a Psicologia nos dão uma idéia nítida com referência à dor. Ela é registrada no sistema nervoso consciente, existindo, portanto, uma consciência da dor. Quando se anestesia um paciente para uma operação, o medicamento paralisa os nervos receptores da região a ser operada (ou o conjunto, numa anestesia geral), na proporção direta da dor a ser sentida. Esta, porém, varia de paciente a paciente, e o médico procura, sempre, evitar o excesso de anestésico. Esse fato pode ser observado, com mais simplicidade, no dentista. Ele aplica certa quantidade de anestésico e começa a extração. Se o paciente reclama, ele aplica mais anestésico. Isso prova maior ou menor sensibilidade à dor, e esse fato é, na maioria das vezes, psicológico. Pessoas existem que chegam a dispensar o analgésico, embora isso raramente aconteça.
Existe, então, um estado psicológico de sentir mais ou menos dor, facilmente comprovável na hipnose médica. Uns sofrem mais e outros sofrem menos, com a mesma dor.
Os missionários têm tantas dores  ou mais do que os que não têm missão a cumprir, porém, sofrem menos. Isso porque seu campo consciencional está mais ocupado com os objetivos de sua missão e, assim, ele não tem tempo para dimensionar sua dor.
A dor psicológica, a chamada dor moral, segue a mesma fisiologia.
Isso se prende ao segundo fator, à tônica predominante no ser encarnado. Se ele não tem missão a cumprir, sua consciência está sempre ocupada com os problemas do seu corpo ou da sua alma. Mas, se ele tem missão, a voz do seu espírito é mais forte e ele não tem tempo de se ocupar da sua personalidade, do seu ego. Daí resulta que podemos situar a questão em termos de maior ou menor egoísmo.
Para uma pessoa conservar um corpo atlético, em boa forma muscular permanente, ela é obrigada a exercícios e cuidados que ocupam boa parte do seu mecanismo consciente. Sua preocupação com o corpo, assim constante, dá a ela uma tônica física.
Um intelectual, um erudito, um cientista ou uma pessoa que dependa do intelecto para sua trajetória planetária, tem sua consciência predominante no fator intelectual. O seu campo consciencional é sempre ocupado como os problemas psicológicos. Sua tônica é a psíquica, sua vida é centralizada na sua alma.
Um missionário, um ser humano cujo espírito se comprometeu a fazer algo por alguém, vive preocupado em sintonizar seu espírito. Seu campo consciencional se expande em termos espaciais, em captar as nuanças de sua missão e os percalços da vivência, geralmente contraditória, com as coisas mais simples da vida. Corpo, alma e espírito, cada um demandando do eu a satisfação de suas necessidades, exigem decisões a cada momento, que são tomadas conforme a tônica predominante naquela vida.
O símbolo mais antigo da Humanidade é a cruz, e ela exprime, com fidelidade, os três estados. A haste inferior é o Homem físico, com seu atavismo, o suporte material da vida; os braços horizontais representam a alma, os mecanismos psicológicos, o negativo e o positivo, o branco e o preto, o eterno dualismo em que se debate a mente concreta; a haste superior representa o espírito, a antena do transcendente.
Antes da consolidação do ser humano no planeta, quando o Céu se confundia com a Terra, talvez nos tempos da Lemúria, a cruz tinha quatro braços, iguais e simétricos. Quem tem olhos para ver...
Missão, pois, é viver em função do espírito e com os olhos no transcendente. É “amar ao próximo como a si mesmo...”


CAPÍTULO III
PREPARAÇÃO DOS MÉDIUNS


FISIOLOGIA DO MÉDIUM

Biologicamente, a base física da mediunidade é uma energia sutil, comum a todos os seres humanos, verificável, também, em animais e vegetais.
Ela tem uma correlação íntima com a circulação e o sistema nervoso. Basicamente, indica uma produção molecular do sangue ativa no organismo, que se transforma em energia. Flui através dos plexos nervosos e extravasa pelas aberturas do corpo, inclusive pelos poros. Ao ser registrada como uma substância, foi denominada por Richet e outros de ectoplasma. Como linguagem comum do espiritismo, é chamada, simplesmente, de fluído.
Esse fluído atua como veículo de ligação entre as três gamas vibratórias do ser humano: os órgãos, os plexos e os chakras. Os chakras eqüivalem, basicamente, aos plexos, e são como centros nervosos do corpo invisível, também chamado fluídico e etérico.
Os estímulos psico-físicos se fazem entre o sistema nervoso vegetativo e o cérebro/espinhal. Os estímulos espirituais são recebidos através dos chakras e transmitidos aos plexos, que atuam como redistribuidores, e vice-versa.
Esse fato tem muitas implicações, mas podemos afirmar que o desenvolvimento mediúnico é, em última análise, a conscientização, na mente cerebral, do funcionamento dos chakras e seu controle volitivo.
Conforme o chakra que se comunica, será o tipo de fenômeno mediúnico que se realiza. Chakras correspondem a plexos e estes a órgãos. As posições desses órgãos, no corpo físico, determinam o tipo de mediunidade.
O chakra frontal, por exemplo, corresponde ao plexo cardíaco, cavernoso e outros. Esses energizam o sistema glandular da cabeça, dos olhos, dos ouvidos, do nariz, etc. As mediunidades que daí resultam são a vidência, a audiência, a olfação, etc.

O CARMA

Carma (ou karma) é a palavra sânscrita e bramânica que significa “atos praticados em outras encarnações, que produziram certos efeitos na encarnação atual”.
Pelo aspecto espiritual, tem a mediunidade uma relação direta com a faixa cármica dos seres humanos. Como conseqüência, pela manifestação mediúnica pode se determinar, em linhas gerais, o carma de um indivíduo em extensão e profundidade. Essa correlação, porém, só é verificável na especificação da exteriorização mediúnica.
Logo, a mediunidade é uma arma individual que o ser humano traz consigo ao nascer, que lhe servirá para a defesa nos momentos difíceis de sua vida. Da eficácia da mediunidade é que depende o sucesso ou o insucesso de uma existência. Há, por conseguinte, uma relação íntima entre o carma, a personalidade e a mediunidade.

O ESPÍRITO E A MEDIUNIDADE

O espírito, ao reencarnar, traz consigo um programa de ressarcimento e de retificação, que deverá realizar através da personalidade que terá na Terra.
Traz, ainda, sua missão como individualidade, ou seja, como um ser transcendental que irá contribuir para o progresso humano. Na realização dessa missão, a mediunidade é sublimada e se espiritualiza.
Há, pois, dois aspectos da mediunidade: o cármico, em que ela atua como fator de equilíbrio dos conflitos da personalidade, e o espiritual, em que ela é a manifestação da obra do espírito.
Dizemos, então, que na mediunidade do espírito, ou seja, o espírito agindo na qualidade de intermediário da ação crística na Terra, como um missionário, é um colaborador da obra divina.
É difícil, mas não impossível, distinguir-se as duas formas de mediunidade. A observação desse fato é feita na prática do mediunismo, quando se acompanha a evolução do médium. No princípio, ele manifesta transes angustiados, nos quais mal se distinguem as presenças da Terra ou do Céu. Passado algum tempo, na proporção em que a faixa cármica vai se extinguindo, os transes vão se tornando mais suaves, mais nítidos e positivos. A partir daí, os fenômenos de que ele se torna portador vão revelando a sua missão, se espiritualizam.
Isso mostra que a mediunidade cármica tende a ser transitória e se identifica com a personalidade. Com o revelar da missão, o espírito começa a predominar, e a personalidade se retrai. Enquanto esta sofre, morre um pouco todos os dias, o espírito desperta, torna-se marcante e executa sua parcela no planejamento sideral.

TIPOS DE MEDIUNIDADE

Por ser comum a todos os seres humanos e ter sua manifestação individualizada, pode-se dizer que existem tantas mediunidades quantos são os seres.
Nessa visão ampla, a mediunidade existe e funciona em todos, à revelia de qualquer prática doutrinária ou religiosa.
No âmbito doutrinário, o fenômeno pode ser relativamente delimitado.
Teremos, assim, tipos de mediunidade, formas mais comuns de exteriorização, que podem ser classificadas segundo um critério espírita. Mas, é preciso notar que o espiritismo popular tem confundido mediunidade com o fenômeno da incorporação, que é apenas uma manifestação da mediunidade. Nesse caso, mediunidade e incorporação seriam a mesma coisa.
Por ser mais prático, no desenvolvimento inicial da mediunidade a Corrente Indiana do Espaço estabeleceu, no Templo do Amanhecer, duas mediunidades básicas: incorporação e doutrina.
Assim, são chamados médiuns de incorporação aqueles que recebem a influência dos espíritos, sejam de luz ou não, diretamente no seu corpo, na região do plexo solar. Chamam-se médiuns doutrinadores os que recebem essa influência na região da cabeça. No primeiro caso, o médium perde parte da sua consciência, e, no segundo, ao contrário, ele se torna mais alerta.
Objetivamente: sempre que um médium, ao manifestar, cerceia ou tem cerceado algum dos sentidos biopsicológicos normais, ele é de incorporação; quando se manifesta, sem prejuízo de nenhum desses sentidos, ele é de doutrina.

O MÉDIUM DOUTRINADOR

É o médium cujo ectoplasma se acumula na parte superior do corpo, do peito para cima, predominando na cabeça. Quando ele se mediuniza, isto é, estabelece sintonia entre seu sistema psicológico e seus chakras, seus sentidos se ativam acima do normal. Como conseqüência imediata, sua percepção fica mais apurada, mais alerta. Com a tônica circulatória predominando na cabeça, os órgãos inferiores diminuem a atividade, principalmente na área do sistema neurovegetativo.
A partir daí, ele começa a emitir uma onda fluídica com a parte superior do corpo, principalmente pela boca e pelas narinas.
Essa onda estabelece um canal fluídico entre os plexos superiores e os chakras correspondentes. Seu sistema psicológico passa a receber as influências dos chakras que, por sua vez, são ativados pelo plano vibratório do mundo espiritual. O Doutrinador se torna, então, receptivo aos espíritos de sua sintonia.
Essas emanações são filtradas pelo sistema cerebral, e o Doutrinador emite sua doutrina, isto é, fala, pensa, escreve, cura, consola e executa sua tarefa mediúnica.
Esse é o sentido amplo da doutrina. Ela não é, apenas, um conjunto de palavras bem articuladas e com boa construção literária. Também, não é simples pensamento bem elaborado, representando idéias precisas. É, essencialmente, emissão de energia positiva, que tanto pode se manifestar por palavras como pela aplicação das mãos, pelo olhar e até pelo simples pensamento dirigido.
Essa realidade do Doutrinador tem algumas implicações que não podem passar desapercebidas: 1º) O fenômeno existe e funciona, mesmo que o Doutrinador nato não saiba disso; 2º) a emissão fluídica tanto pode ser positiva como negativa, na dependência do campo de sintonia do Doutrinador. Nos estados de ira, de cólera, de angústia, de medo ou de ansiedade, a polarização das forças é, essencialmente, dos plexos nervosos. Nesse caso, os chakras se fecham, e a pessoa entra em curto-circuito, que pode produzir resultados funestos. O sangue que aflui ao cérebro se carrega de partículas tóxicas e produz descargas em todo o organismo. O médium Doutrinador não desenvolvido é um candidato natural à apoplexia, aos enfartes e derrames.
Pelas razões expostas acima, o Doutrinador é o médium por excelência, o intermediário entre os planos e o responsável pelo fenômeno mediúnico. Sem a presença de seu ectoplasma, é difícil a realização do processo, no qual ele atua como catalisador.
A manifestação de sua mediunidade é feita través da sua psique normal e esse fato inspira confiança, em virtude da plena responsabilidade em quaisquer circunstâncias. O Doutrinador não sente arrepios, perdas de consciência, nem tem descontroles emocionais, comuns em outros médiuns.
O desconhecimento desse tipo de mediunidade leva a considerar o Doutrinador  como um ser humano que não tivesse mediunidade, atitude essa que tem tirado a oportunidade de realização a muitos.
Por outro lado, a tentativa de desenvolvimento da mediunidade de um Doutrinador nato pelos plexos inferiores, leva a complicações de conseqüências imprevisíveis.
A memória transcendental estabelece, para o ser humano, o momento para cada etapa fundamental de sua trajetória. O exercício da mediunidade tem um tempo certo para começar. Quando essa cronologia não é observada a Natureza põe em funcionamento os sinais de alarme. Estes aumentam de intensidade na proporção em que não são atendidos.
       Nesse ponto, torna-se necessário lembrar ao leitor que o exercício da mediunidade não é feito apenas no Espiritismo. Se assim fosse, o mundo seria habitado somente por desequilibrados. Mas, por outro lado, apenas a vida comum, o mundo da personalidade transitória, não satisfaz às demandas mediúnicas. Isso explica, em parte, a busca eterna da realização religiosa, política ou idealista. O ser humano sempre precisa de algo além da sua simples sobrevivência. O Mediunismo se apresenta, atualmente, como a solução mais objetiva.
       O Doutrinador potencial, quando se apresenta ao grupo mediúnico, demonstra, em geral, ter a vida desequilibrada e ser dominado pela angústia, pela descrença, agressividade ou passividade excessiva.
       Fisicamente, queixa-se de dores de cabeça, distúrbios digestivos e incômodos cardíacos. De modo geral, esses incômodos cardíacos já foram objeto de cuidados médicos e desanimaram o clínico pela falta de causas definidas.
       Submete-se, então, o paciente a um trabalho mediúnico, em que haja absorção do ectoplasma excedente no organismo. A melhora quase instantânea é a melhor prova de que estamos na presença de um Doutrinador.
       Depois dessa experiência, se ele aceitar a idéia de trabalhar espiritualmente, deve ser submetido ao exercício de sua mediunidade, a começar pelos processos físicos. Durante um período mínimo de três meses, ele deve trabalhar uma ou duas vezes por semana, doutrinando espíritos incorporados, ministrando passes magnéticos e conversando com pacientes que procuram o tratamento espiritual.
       Por tendência natural, o Doutrinador tem interesse na cultura intelectual. Tenha escolaridade ou não, ele sempre absorve o aspecto intelectivo do meio em que vive.
       Sua apresentação, pois,  é cheia de justificativas, explicações e demonstrações de conhecimentos. No seu arrazoado, predomina a análise com tendências ao cerebralismo. Nisso ele revela certo bloqueio à recepção espiritual. O racionalismo excessivo impede o contato com o transcendente.
       A alimentação do intelecto, nesse caso, é somente horizontal, isto é, nutrida, apenas, pelas idéias elaboradas por outros, remodeladas num transformismo contínuo, que nada cria. É uma psique saturada.
       Paralelamente à desassimilação ectoplasmática, o médium deve ser submetido a uma confortável desassimilação intelectual. Durante algum tempo, ele deve se abster de leituras, experiências e pesquisas mais sérias; isso irá aguçar sua curiosidade, mas descansará sua mente. Esta, sem o bombardeio das informações formais, começará a sintonizar as antenas com o mundo chákrico e, mais além, com o mundo espiritual.
       Nesse período, ele deve receber, apenas, as informações essenciais à técnica da mediunização, um sutil fenômeno da Natureza, mas de fácil alcance. Na vida comum, ele pode ser verificado nos momentos dramáticos, quando os acontecimentos superam o senso comum e o ser humano apela, automaticamente, para o transcendente.
       O Mediunismo provê a mediunização por meio de chaves, mantras e o ritual em geral. Em última análise, é um problema de disponibilidade de ectoplasma e de focalização da consciência.
       Sem dúvida, o sucesso de um Doutrinador depende de sua capacidade de mediunizar-se. Pela sua própria natureza, ele é um impaciente, e tudo que lhe acontece em torno o incomoda. Tem tendência para dar ordens e organizar as coisas. Gosta de falar, mas não de ouvir, provocando, com isso, reações desfavoráveis à sua atividade.
       No estado normal, sob o domínio da personalidade, ele manifesta seu temperamento, sua cultura e seus preconceitos, nem sempre agradando.
       Ao mediunizar-se, porém, ele entra em sintonia com seu espírito, portador da experiência milenar, e com o plano em que se acha. Seus Guias encontram acesso à sua psique e, através dela, trazem suas vibrações benéficas ao ambiente, no verdadeiro exercício da mediunidade.
       Como vimos até aqui, a mediunidade de doutrina revela as maiores possibilidades do ser humano, podendo, sem medo, se atribuir a ela as grandes conquistas da Humanidade.
       Se pensarmos em termos da iluminação intelectual, mediante o processo mediúnico, chegaremos à conclusão de que a revelação mística não é antagônica ao processo científico, e tem sido a base da evolução humana. Com essa reflexão simples, colocaremos as religiões no lugar que lhes compete e partiremos mais tranqüilos ao encontro do nosso futuro.
       Qualquer ser humano, por modesto que seja em seu mecanismo intelectual, pode ser o portador da experiência transcendente. Basta, para isso, que se disponha a servir o seu próximo nas normas evangélicas e conheça as técnicas do Mediunismo.

                    O MÉDIUM DE INCORPORAÇÃO

       É o médium cuja tônica ectoplasmática é maior no plexo solar, na região umbilical. Esse plexo nervoso é a maior concentração de nervos do corpo humano, um intrincado cruzamento nervoso, com ligações por todo o organismo. Pertence ao sistema autônomo, também chamado neurovegetativo, ou seja, que faz funcionar os órgãos sem a vontade, sem que se tenha consciência disso. Assim funciona a maioria dos órgãos internos e, parcialmente, outros órgãos.
       O ectoplasma, ativando o plexo solar acima da tônica normal, produz toda uma série de fenômenos, que resultam na chamada incorporação. Tais fenômenos são opostos aos da mediunidade de doutrina.
       O sangue afluindo com maior pressão nessa região, empobrece a irrigação cerebral e, com isso, amortece os principais sentidos. A força do plexo solar é transmitida aos plexos vizinhos, proporcionando um espectro amplo de ligação com os chakras.
       A emissão fluídica resultante reflete o processo nervoso da região, relativamente alheia ao processo psicológico. Nela entra muito menos a vontade do médium do que na emissão do Doutrinador.
       Isso esclarece a questão da incorporação. Tanto no Doutrinador como no Incorporador, o fenômeno básico é o mesmo, ou seja, a presença da energia ectoplasmática e a ligação com os chakras. A diferença existe, apenas, na exteriorização, na manifestação do fenômeno.
       Se o médium recebe a influência na cabeça, ele age pelo processo psicológico; se essa influência se faz no meio do corpo, ele age pelo processo fisiológico.
       A partir desse fenômeno, podemos classificar as mediunidades com o relativo isolamento de cada uma. Mas, não podemos esquecer que o que acontece numa parte do corpo reflete, automaticamente, em todo o corpo. Se acendermos uma lâmpada num aposento de uma casa, é muito difícil que os outros compartimentos permaneçam completamente escuros.
       Por estar mais próxima das funções básicas do corpo físico, a mediunidade de incorporação é de assimilação mais imediata, sendo por isso do domínio de maior número de pessoas.
       Por outro lado, ela abrange uma faixa ampla de manifestações, que vão desde a simples incorporação de espíritos sofredores até às mais complexas formas de comunicação espiritual. Talvez, pelo teor emocional, a incorporação é mais freqüente no médium feminino. Já o médium Doutrinador se inclina para o racionalismo, sendo esse o provável motivo de se encontrar maior número de Doutrinadores entre os homens.
       A incorporação tem um sentido mais horizontal que a doutrina, pois esta se expande em sentido espacial.
       Por essa razão, o desenvolvimento do médium de incorporação obedece a um esquema diferente do Doutrinador.
       Quando chega ao Mediunismo, o Incorporador nato apresenta incômodos na parte inferior do corpo, principalmente no aparelho digestivo, rins, bexiga e outros órgãos energizados pelo plexo solar e circunvizinhos.
       É muito comum, também, apresentarem incômodos na coluna.
       Como conseqüência direta desses males, ele sofre cronicamente de dores de cabeça, tonturas e sintomas semelhantes.
       Psicologicamente os sintomas são de fobias, alucinações, insegurança, irritabilidade, emotividade exagerada e até histeria.
       A primeira medida, no seu desenvolvimento, é fazê-lo sintonizar com o seu Mentor (Veja 2º item do capítulo II). Ele é a garantia do equilíbrio do médium.
       Convida-se o candidato a se concentrar, de olhos fechados, de pé, e a respirar profundamente. Mediante a aplicação das mãos, da cabeça para baixo, sem o tocar, o Doutrinador magnetiza o aparelho. Esse trabalho deve ser acompanhado de leve hipnose, através de palavras repetidas. Pede-se ao médium que imagine seu Mentor, e vai-se sugerindo sua presença, mediante chaves próprias.
       Na maioria dos casos, o médium incorpora na segunda ou na terceira tentativa. Se ele apresentar sintomas de angústia, deverá ser submetido a uma enfermagem, na mesa mediúnica, e voltar ao processo.
       Assim que o médium  se habituar a incorporar o seu Mentor, sempre que for solicitado, e na presença de um Doutrinador, ele deve ser encaminhado à mesa e ali incorporar sofredores, assistido pelos Doutrinadores.

FUNÇÕES MEDIÚNICAS

       Conforme seu tipo básico de manifestação mediúnica – incorporação ou doutrina – cada médium inclina-se a uma função, de acordo com suas possibilidades, personalidade, cultura e dedicação ao trabalho.
       Há coisas que só podem ser feitas por um Doutrinador e outras mais adequadas ao Incorporador. Outras, ainda, podem ser feitas por ambos.
       Um aspecto importante do trabalho mediúnico é ser ele essencialmente coletivo. No mínimo, ele deve ser executado por dois médiuns – um de doutrina e outro de incorporação. Principalmente, a incorporação nunca deve ser feita sem a presença de um Doutrinador, devido à perda parcial de consciência do Incorporador.
       O Doutrinador jamais incorpora e nunca perde a consciência no trabalho mediúnico. Inclina-se, com isso, aos trabalhos em que é necessário tomar decisões, interpretar situações e manipular as forças mentais.
       São funções próprias do Doutrinador:
1.  Aprender, interpretar e conceituar a Doutrina praticada pelo seu grupo mediúnico, bem como a missão a ele confiada;
2.  Organizar, administrar e desenvolver os médiuns;
3.  Abrir e fechar os trabalhos;
4.  Assistir e controlar todo e qualquer trabalho de incorporação;
5.  Interpretar as situações dos médiuns quando incorporados. Se for o Mentor ou o Guia, atendê-lo respeitosamente; se for sofredor, doutriná-lo e fazer sua entrega aos planos espirituais;
6.  Ministrar passes magnéticos de equilíbrio aos médiuns de incorporação, sempre que estes terminam uma incorporação; estes passes podem ser ministrados a qualquer pessoa, e mesmo a outro Doutrinador, quando revelar desequilíbrio;
7.  Controlar, com sua mente, qualquer situação anormal de pessoas ou grupos, mantendo sempre seu equilíbrio pessoal. O Doutrinador, que conhece o seu potencial mediúnico, pode controlar  um ambiente sem externar qualquer gesto.
O Doutrinador deve evitar o desenvolvimento de outras mediunidades embora as tenha em potencial. Em casos específicos, que justifiquem outros desenvolvimentos, ele deve ater-se, apenas, a mediunidades dos plexos e dos chakras superiores, como psicografia (automática e semi-automática), vidência (com todas as restrições que essa mediunidade suscita), olfação e audição. Mas, sempre que um Doutrinador desenvolver alguma dessas mediunidades, ele deve ser mantido sob observação dos companheiros, pois essas funções podem prejudicar a acuidade do seu julgamento e sua objetividade.
No sentido oposto, o médium de Incorporação nunca trabalha sem incorporar, isto é, sem a perda parcial de sua consciência. Nestas condições, ele tem duas funções básicas: a incorporação de espíritos de Luz, Mentores ou Guias, e a incorporação de espíritos que ainda não alcançaram os planos espirituais, ou seja, sofredores.
O Mentor incorpora para o equilíbrio o médium, mantendo seu aparelho nas melhores condições possíveis. Os Guias incorporam para o exercício de funções específicas. Um Guia incorpora quando o médium é chamado a fazer uma cura de doença física; outro vem para uma comunicação, outro para um trabalho de passes, etc. Às vezes, eles se alternam nas funções e, em outras, o próprio Mentor atua como Guia.
Com essa visão, poderemos classificar as funções do Incorporador:
1.  Passagem de sofredores
2.  Cura de doenças
3.  Comunicações
4.  Passes
5.  Desobsessão
6.  Psicografia automática
7.  Materialização
Há, ainda, duas funções específicas que devem ser confiadas, apenas, aos médiuns de incorporação: o transporte e o desdobramento, este último podendo ser desenvolvido com fonia.

EVANGELIZAÇÃO

O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o mais completo manual da Vida. Nele, qualquer espírito em trânsito na Terra, poderá encontrar todas as condições para o melhor aproveitamento de sua estada no planeta.
Mas, é preciso que se distinga, com muita clareza, o Evangelho escrito, isto é, os livros que contêm a Doutrina de Jesus, escritos por outros, transcritos, copiados, interpretados, escoimados, escamoteados e traduzidos e o Evangelho Vivo, isto é, a orientação Crística, que é ministrada a todos os seres humanos na Terra, e que não depende exclusivamente da transmissão pelos sentidos, seja ela falada ou escrita.
O Evangelho Vivo é uma Luz potencial, que reside, faz parte intrínseca do organismo de todos os espíritos que habitam o Sistema Solar e, talvez, de outros sistemas.
Na conceituação iniciática, os seres humanos, isto é, os espíritos            encarnados na Terra, possuem essa Luz sob a forma de uma partícula atômica – o Átomo Crístico. O Mestre Jesus teve e tem em si toda a força Crística. É, pois, a emanação de Jesus que desperta, no ser humano, a Partícula Crística.
Esta se expande e impregna o ser da sua intimidade para fora, traduzindo-se em conceitos, atos, atitudes e maneira de viver.
Para cada quadrante do Universo, o estímulo de Jesus age de forma dinâmica e adequada e, absolutamente, não depende dos textos escritos. Por miríades de formas, em todas as línguas e em todos os gestos, a Mensagem de Jesus fala diretamente ao íntimo dos seres humanos. Sua linguagem está escrita na vida de cada dia, nos seres humanos que cercam outros seres humanos, no viver de cada momento. Talvez, seja até mais fácil encontrar uma pessoa que viva, com intensidade, os ensinamentos de Jesus entre os que nunca tiveram oportunidade de ler um texto do Evangelho, do que entre os eruditos.
Embora esse fato não invalide todas as pregações, doutrinas e religiões, é preciso lembrar que todas se transmitem pelos sentidos, se destinam à personalidade, à parte transitória do ser humano. Mas, a personalidade é, apenas, o instrumento através do qual o espírito realiza um curso, uma experiência. Os ensinamentos de Jesus não se destinam somente a ela, mas ao espírito que habita nela.
É importante que se vejam as duas coisas separadamente, para que se possa entender o fenômeno. O melhor campo para se percebê-lo é o mediúnico.
Toda vez que praticamos alguma ação fora da rotina de nossa vida, um gesto de generosidade ou uma atitude caridosa, automaticamente nos lembramos de Deus, de religião, da bondade, da moral, etc.
Da mesma forma, cada vez que fazemos um gesto negativo, entramos em debate íntimo, no qual entram as justificativas, o medo, a angústia, etc. Sempre, porém, nossa elaboração mental fica ligada a um aspecto mais transcendente da vida; sintonizamos com nosso espírito.
O próprio fato de nos interessarmos e procurarmos exercer alguma função mediúnica já nos liga a esse mundo transcendental. Nesse processo, nos ligamos a alguma coisa, fora do circuito de nossas experiências, do nosso quadro quotidiano, e percebemos, com mais clareza, a imagem de nossa personalidade contrastando com a imagem de nosso espírito.
A partir do momento em que começamos nossa mediunização, a Partícula Crística encontra acesso em nossa mente, e seus raios começam a impregnar os nossos atos. Assim, apreendemos, por um processo natural, o Evangelho. A partir daí, sobem à nossa consciência os fragmentos do aprendizado que tenhamos tido em termos de religião, cultura religiosa, crendices, superstições, rituais, etc., seguidos da inspiração espiritual profunda.
É por isso que, em condições anormais de acontecimentos, nós soltamos, involuntariamente, exclamações como “Deus do Céu!”, “Mãe do Céu”, “Virgem!”, ou, então, tomamos uma aparência reverente, solene.
E, por estarmos no limiar do Terceiro Milênio, não falta, qualquer que seja nossa ambientação, a manifestação evangélica, a Palavra do Mestre  Jesus, em forma verbal ou escrita, para formalizar nosso aprendizado.
Concluímos, pois, que a evangelização no Mediunismo se faz, objetivamente, adequada  a cada grau evolutivo e estado em que o ser humano se apresenta para o exercício de sua missão, de sua tarefa no planeta.

A ACULTURAÇÃO DO MÉDIUM

A palavra cultura tem dois sentidos – um geral e outro particular. De modo geral, cultura é o aprendizado que uma pessoa faz no seu meio ambiente, sua maneira de viver. De modo particular, a cultura é o aprendizado de um conjunto de idéias específicas, como, por exemplo, a cultura física, a cultura filosófica, etc. Nesse sentido existe, portanto, uma cultura espírita, ou seja, o conjunto de idéias, normas, técnicas e práticas, que regem o Espiritismo.
Essa cultura, entretanto, é complexa e variável conforme a época, o lugar e o grupo. O que há de mais aproximado para uma cultura espírita é a obra de Allan Kardec e seus divulgadores. A Codificação Kardecista é ampla e preenche, perfeitamente, a mais exigente necessidade de aculturação espírita.
Mas, a própria evolução do Espiritismo e a tendência natural para o sectarismo nos leva ao conceito do Mediunismo, totalmente abrangente, pois se refere a coisas básicas do ser humano, portanto, livre de qualquer injunção. O médium, no sentido popular, é uma figura humana de dons excepcionais. O médium, no conceito do Mediunismo, é um ser humano comum, ou seja, todos os seres humanos são médiuns.
Para uma aculturação kardecista é necessário, de modo geral, haver um mínimo de escolaridade, pelo menos saber ler. É muito difícil conceber-se um grupo mediúnico kardecista sem a leitura. Já na Umbanda, a transmissão doutrinária é, predominantemente, oral, formando, com isso, uma cultura mais particularizada. Ambas, naturalmente, são reflexos de grupos sociais e obedecem às leis sociológicas. Como grupos eles têm, logicamente, certo exclusivismo que, em termos doutrinários, significa sectarismo.
No conceito amplo do Mediunismo, podemos citar, ainda, os grupos mais fechados, embora tais grupos não aceitem a mediunidade como aconselhável. O problema aí entre em termos de cultura intelectual, o que o torna mais exclusivo, etc. Falemos, portanto, em termos de “aculturação mediúnica”, que irá tornar o problema bem mais simples.
Mediunidade sendo algo natural, inerente ao ser humano, tem, logicamente, meios naturais de aprendizado. Decorre daí, que a aculturação mediúnica   é apenas aculturação geral, quer dizer, as coisas do Mediunismo fazem parte do quotidiano, como comer, vestir, estudar, etc., coisas que tanto podem ser feitas por pessoas cultas como incultas.
Cabe aqui um parêntesis: a experiência da Humanidade, em termos de aculturações específicas em massa, tem sido sempre desastrosa. Basta, para isso, que se olhe o calendário das guerras e das lutas sociais para se ter uma idéia.
A oportunidade só existe para todos se a cada um for dado o pode absorver e não uma cultura padrão, geralmente mal assimilada.
Duas coisas são fundamentais no desenvolvimento do médium: a técnica da mediunização e o conhecimento sensato da vida fora da matéria.

AS CORRENTES

Corrente mediúnica é o conjunto de espíritos empenhados numa tarefa específica, uma missão comum que os identifica.
Parte desses espíritos estão situados nas esferas superiores e outros estão encarnados. Como conjuntos, eles se reúnem em falanges, quer dizer, se afinam em grupos de sete espíritos, formando hierarquias, cujo número é sempre um múltiplo de sete.
Cada corrente é conhecida, na Terra, pelo tipo de trabalho que executa através dos médiuns a ela filiados. Para que haja a filiação, é necessário que o médium se afine, isto é, que a sua sintonia se ajuste ao padrão vibratório do grupo.
A atração do médium, para um tipo de corrente determinada, se faz por laços cujas raízes são anteriores à presente encarnação. Quando esses laços não existem, o médium dificilmente se ajusta ao trabalho.
Não é, pois, o exame objetivo, segundo critérios humanos, que determina a junção. Todos os grupos são bons para aqueles que se afinam com eles. Não há grupos melhores ou piores, mas apenas grupos. A crítica aos conjuntos, sejam doutrinários ou religiosos, ou a idéia de que um tem a verdade e outro não, absolutamente não procede, em termos do transcendente. A verdade está no ser humano, no íntimo do seu espírito, que é inexprimível por um conjunto dogmático ou mesmo doutrinário.
Talvez, se falarmos da verdade em termos de realidade, possamos dizer que um grupo doutrinário, ou melhor, uma doutrina, corresponde, em determinado momento, a realidades do conjunto humano e melhor se adaptem às necessidades do momento.
É assim que as correntes fazem sentido. Exemplifiquemos:
Em dado momento de nossa época, certos espíritos dos planos superiores preocuparam-se com os rumos tomados nos processos de cura, na Terra, em termos de Mediunismo. As superstições medravam mais do que as ervas usadas nas curas, afastando, cada vez mais, a medicina científica das possibilidades mediúnicas.
Com essa preocupação, eles foram ao Cristo e pediram permissão para consertar essa situação na Terra. Essa falange era composta de espíritos cuja maioria já havia sido encarnada na Europa, principalmente na Alemanha, onde haviam exercido a Medicina. Recebida a autorização, eles começaram a incorporar em médiuns de efeitos físicos e fazer curas, predominando no Brasil. A partir daí, começaram a aparecer curadores tipo Zé Arigó e outros. Formou-se, então, uma corrente, cuja evolução vem sendo notável. Do sensacionalismo das curas, feito talvez com a idéia de despertar atenção, a mediunidade de cura está ingressando num quadro mais harmônico de entrosamento com a Medicina da Terra. Isso explica, também, o porquê dos espíritos curadores se apresentarem  como “Doutor Fritz”, um diminutivo de Francisco, em alemão. Simples problema didático, visando capitalizar o prestígio dos médicos alemães. Assim, temos correntes especializadas em todos os ramos da vida na Terra:  de cura, de desobsessão, de vida intelectual, científica, etc.


CAPÍTULO IV
A CURA ESPIRITUAL

ORIGEM DAS DOENÇAS

Doença é um estado de anormalidade física ou psíquica. A ciência  que trata das doenças é a Patologia. Um dos ramos da Patologia chama-se Etiologia, ou ciência das causas. A Etiologia considera a origem das doenças nos agentes biológicos, nas profissões, na insalubridade e em outros fatores desconhecidos.
Fora da Ciência, na observação comum, qualquer pessoa pode perceber que os estados psicológicos também produzem doenças. Por sua vez, as alterações psicológicas tanto podem ter sua origem num fato expresso conscientizado, como num fato inconsciente ou subliminar.
O inconsciente é o mundo desconhecido do ser humano, o vasto repositório dos mistérios da vida. A ciência médica ou a Psiquiatria não têm condições, ainda, de explicar esses mistérios. Enquanto isso não acontece, teremos que aceitar o pragmatismo mediúnico.
Para o Mediunismo, todas as doenças têm sua origem no plano invisível, na dimensão envolvente do plano físico. O espírito não tem doenças, mas pode ser o portador delas. Ao reencarnar, ele traz, na sua memória o esquema de outras encarnações e se liga, pelos corpos invisíveis, aos déficits energéticos de sua cota, e procura fazer o ressarcimento.
Vista por esse prisma, a doença tem um sentido educativo, faz parte do mecanismo cármico e é coerente com a posição atual do planeta.
A Neogenética é uma ciência relativamente nova, que estuda os problemas dos genes. Estes corpúsculos se situam no íntimo das células, e determinam as características do indivíduo, suas doenças, enfim, a vida física de uma pessoa.
Uma das coisas que intriga os geneticistas é o fato que uma célula, possuidora de um gene causador de uma determinada lesão ou doença de um organismo, ficar dormente durante muitos anos, e só entrar em atividade num tempo certo, como um ator, que só entra no palco no momento de representar a sua parte!
Isso dá a entender que o organismo tem uma programação, um esquema no qual cada coisa acontece na hora determinada. Mas, assim o como o fato genético pode ser modificado, por razões do próprio organismo ou por interferências externas, assim são as vidas das pessoas nos outros planos.
Existe uma gênese do corpo, uma da alma e uma do espírito.
Mas existe, também, o livre arbítrio.
Um espírito programa uma encarnação em função do seu débito para com a Terra. Para que ele salde esse débito, é preciso que emita energias, se coloque em posição de produtividade espiritual. É necessário que sua força se evidencie no plano da Terra e, com isso, outros espíritos, talvez seus próprios credores, se beneficiem dessas forças. Ele escolhe, então, uma vida em que a dor anule, até certo ponto, a tônica da alma e do corpo, para que se evidencie a do espírito.
Ele programa um corpo e, para ele, certas doenças. Para isso são feitas miríades de combinações, impossíveis de serem entendidas ou concebidas em nossa mente humana. Os genes são manipulados a partir dos pais ou, talvez, dos avós. Não esqueçamos que o tempo do plano espiritual não é o mesmo que o nosso. Não esqueçamos, também, que os espíritos programam suas encarnações um função de outros espíritos, e que famílias inteiras se relacionam por acordo mútuo, muito antes do encontro.
Chegado o momento propício, a doença aparece – ou não –, na dependência da maneira que esse espírito tenha vivido até esse ponto. Mesmo encarnado, o espírito sabe o que programou. Mas sua alma, sua psique, apenas pressente. O corpo nada sabe: é apenas o executivo, a base material. A luta se passa no Eu, no campo consciencional, entre a alma e o espírito. Uma boa alma pode pagar o débito energético de um espírito, sem precisar da dor. Mas, isso só pode acontecer no ser humano adulto, quando a alma tem capacidade de decisão.
Disso podemos tirar inúmeras conclusões. Por exemplo, a doença de uma criança causa mais dor aos pais do que a ela mesma. Os adultos têm mais consciência da dor que as crianças. A morte de uma criança em nada afeta seu espírito, mas atinge muito o espírito dos pais.
O ser humano, enquanto não se torna adulto, não tem vida mediúnica, da mesma forma que não tem autonomia sócio-econômica. Deduz-se, daí, que o aspecto cármico das doenças, embora tenha nas crianças um instrumento, se refere mais aos adultos. Só eles têm seu livre arbítrio em condições de viver uma dor, ou evitar essa dor pelo trabalho espiritual.
O trabalho mediúnico, qualquer que seja sua modalidade, no âmbito doutrinário ou não, pode evitar uma doença, nos adultos ou nas crianças da sua dependência. Isso tanto pode acontecer antes ou depois de a doença se manifestar.
Portanto, as doenças cármicas são as programadas.
Mas, não existem, apenas, doenças cármicas. Os desatinos, tanto no plano físico como no psíquico, causam, talvez, mais doenças do que os carmas. Também, a doença pode ser, apenas, um fato correlato com o carma de uma pessoa. Há miríades de possibilidades de um ser humano apanhar doenças apenas como decorrência de outros fatores cármicos, como, por exemplo, viver numa região insalubre ou trabalhar em condições que provoquem doenças.
Deve-se, por conseguinte, distinguir os fatos que são parte integrante da Natureza, em que o fator cármico é natural, sendo a Terra um planeta de retificação dos espíritos e os destinos particulares de cada espírito.
Conclui-se que cada caso deve ser examinado de per si, não se podendo estabelecer generalizações em torno das doenças. A mesma terapêutica aplicada em indivíduos diferentes produz resultados diferentes.

DIAGNOSE MEDIÚNICA

A Medicina, antes de se tornar uma ciência, era um culto. Antes da ciência de Hipócrates, existia o culto a Esculápio. Antes da existência de um hospital, havia o templo. A Patologia tem 2.500 anos, o culto do espírito se perde nos cálculos de tempo.
Natural, pois, que, no revisionismo atual, se procure novas luzes para a ciência – ou arte? – de curar. O Mediunismo é uma dessas luzes.
Entre os enigmas da Medicina, o maior é, talvez o da diagnose. E o grande problema da diagnose é a interpretação correta das causas. É difícil, senão impossível, interpretar-se corretamente uma situação em que não temos todos os dados do problema.

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